O LIVRO ACESSÍVEL - Linda Lemos
O que se considera um livro acessível? Um livro a custo zero, ao qual todas as pessoas tenham acesso, independente da condição financeira? Um livro sem censura, que pode ser lido e compreendido pelo leitor, independentemente da idade, grau de maturidade, escolaridade ou conhecimento acadêmico? Um livro pictórico, cujas figuras permitem ao leitor criar sua própria história? Um livro pontilhado em alto relevo, que permite as crianças cegas, não alfabetizadas ainda, sentir sua história? Livros digitais, que podem ser lidos por pessoas com cegueira com ajuda dos softwares Dos-vox, Jaws e Virtual Vision? Poder ser tudo isso e mais: impressos em tinta com letra ampliada, em braile (sistema Louis Braille), falados em CDs ou DVDs.
Os livros no Brasil são produzidos somente em formato convencional, ou seja, brochuras de papel e impressos a tinta. Ele deixa excluído de seu acesso todo aquele que não possa ler ou manipular suas páginas: pessoas cegas, com baixa visão, paralisadas ou amputadas de membros superiores, disléxicas, entre outras. Todos esses milhões de pessoas segregadas da leitura exigem o fim dessa situação excludente. Exigem a imediata regulamentação da Lei do Livro N0 10.753/03, que surgiu a partir de uma proposta conjunta das pessoas com deficiência (Movimento pelo Livro e Leitura Acessíveis no Brasil- MOLLA) em comum acordo com editores brasileiros, considerando a diversidade do público leitor. Foi pensada a produção de livros em formato universal, permitindo o acesso do maior número possível de pessoas, tenham elas alguma deficiência ou não.
Com o advento da lei de cotas - Lei Nº 8.213, de 24/07/1991, que determinou a contratação de 5% de pessoas com deficiência pelas empresas privadas com mais de 1.000 empregados - se popularizou a idéia de que estas pessoas não conseguem boas colocações por não serem bem formadas ou qualificadas. Eis a questão - o problema não é das pessoas com deficiência e sim do sistema de ensino brasileiro que não lhes possibilita um ambiente de estudos adequado, acessível, semelhante ao que é proporcionado às demais pessoas, em todos os níveis de ensino: superior, médio e fundamental.
Na semana em que cheguei à Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceara - ALMECE, 01.09.2009, li matéria cujo conteúdo registrei no meu discurso de posse, revelando a impossibilidade de Sara Barnes, uma jovem cega, de continuar um trabalho monográfico, por falta de livros acessíveis. Amenizou minha angústia testemunhar que a ALMECE possibilitou às pessoas com qualquer tipo de limitação física participar daquele evento, disponibilizando rampas, intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), adequada organização do ambiente físico (arrumação de cadeiras), banheiros semi acessíveis, audiodescrição e, sobretudo, acessibilidade atitudinal, sem fugirmos do reconhecimento, que devemos ao grande tenor Alvarus Moreno, fenomenal soprano Auzeneide Cândido e seu distintíssimo coral que encantam nossas festas, o lugar destacado que merecem (tablado). Enfim, todos os amigos, familiares e o público em geral puderam participar daquele importante e inesquecível momento da minha vida, independente de sua condição física, pois ali estava um ambiente que respeitava a Lei 7.853/89 que trata da acessibilidade.
Transborda minha alegria ao tomar conhecimento, através do Boletim Nº 5 da Newsletter/janeiro de 2010, que já existe o MOLLA, motivando as editoras brasileiras a correrem para adaptar-se aos livros digitais. Por exemplo, a editora ZAHAR já disponibiliza obras de seu catálogo em versão eletrônica. O site https://livroacessivel.org/reporter.php está aberto e sugere que se enviem as notícias que circulam na imprensa para serem adaptadas para qualquer tipo de leitor. Você, escritor encontra no site https://livroacessivel.org/apresentacao-molla.php um lugar para se informar, compartilhar e comemorar a inclusão, enunciar a falta de acesso e a exclusão, assim contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e melhor para todos. Parabéns àquele que lidera o MOLLA, Naziberto Lopes de Oliveira, estudante de psicologia na Universidade São Marcos, em São Paulo Capital, que foi obrigado, por uma questão de sobrevivência acadêmica (após sofrer um acidente de carro, ficou cego, devido ao descolamento das retinas), a tomar certas atitudes como a criação do movimento.
Parabéns a detentora dos títulos “Miss Ceará 2009 e Miss Beleza Internacional 2009”, Vanessa Vidal autora do recém lançado livro “A Verdadeira Beleza”, no qual reporta sua trajetória de vida. Modelo profissional, com surdez congênita, ela aborda questões que vão desde o convívio familiar, experiência acadêmica e profissional, evidenciando sua viagem ao Japão, para cumprir agenda em concurso internacional de beleza. Uma beleza interior verdadeiramente acessível, exposta num livro útil a familiares, profissionais da saúde, educação e áreas afins, que vem encantando o país, como instrumento propulsor de inclusão social das pessoas com deficiências.
Autora: Maria Linda Lemos Bezerra é psicóloga, membro fundador do Conselho Estadual de Direitos das Pessoas com Deficiência do Estado do Ceará – CEDEF-CE. Natural de Várzea Alegre – CE é membro efetivo da ALMECE, ocupante da Cadeira N0 63 e da Associação dos Escritores Cearenses - ACE.
contato: lindapsy03@yahoo.com.br \ www.diferrencepc.com.br